O maior coqueiral do mundo

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Na Floresta Amazônica, a Sococo tem 1 milhão de pés plantados – que devem render neste ano mais de 120 milhões de frutos

Alguns mitos da coqueicultura brasileira caíram por terra nos últimos 30 anos. O primeiro a ser abatido foi o de que coqueirais a perder de vista só se encontram no Nordeste, de preferência à beira-mar. Hoje, a maior área contínua de cultivo do mundo se encontra no meio da Floresta Amazônica, no Pará. Outro mito, disseminado pelo baião que diz “Oi, trepa no coqueiro, tira coco…”, também não resiste à realidade: agora, nos plantios comerciais, os cocos são apanhados com varas metálicas muito compridas, manejadas por trabalhadores com os pés firmes no chão.

Essas e outras mudanças aconteceram depois que o empresário Emerson Tenório, decidido a ampliar a produção de cocos que mantinha em Alagoas, procurou o Institut de Recherches pour les Huiles et Oléagineux (IRHO), da França, especialista em palmáceas, para estudar qual região no território nacional era a mais adequada para receber novos plantios. Como resultado da pesquisa, em 1979 foi instalada, no município de Moju, a 110 quilômetros de Belém, a primeira fazenda da Sococo no Pará, na área apontada como a mais apropriada para a cultura por suas condições edafoclimáticas. “Criamos uma nova opção de coqueicultura, planejada e sustentável, no norte do Brasil”, diz Tenório, presidente da Sococo, empresa que lidera o mercado de derivados de coco no país.
O plantio no Pará foi iniciado em 1981 em cerca de 800 hectares, destinados inicialmente à produção de coco seco. A iniciativa se mostrou acertada: hoje, 34 anos depois de implantar o cultivo em Moju, a empresa tem 1 milhão de pés, distribuídos por 6.000 dos 20.000 hectares da fazenda; os outros 14.000 hectares são de reserva ambiental. Em 2012, foram colhidos na fazenda paraense 110 milhões de frutos, volume que deve alcançar entre 120 milhões e 150 milhões em 2013. “Tivemos seca no ano passado, o que não deve acontecer novamente este ano”, diz Lins. “Um coqueiro precisa de pelo menos 250 litros de água por dia para se desenvolver adequadamente, e o índice pluviométrico de Moju, em geral, atende às necessidades da planta.”

Na fazenda são cultivadas variedades híbridas (obtidas do cruzamento entre as variedades gigante e anão). A opção pelos híbridos se deu em função das vantagens dessa espécie em alcançar maior rendimento por hectare. “Enquanto a média nacional de produtividade do coqueiro-gigante oscila entre 40 e 120 cocos por pé ao ano, aqui na fazenda conseguimos chegar até 220”, explica Lins. Além disso, os coqueiros híbridos possuem dupla aptidão: produzem tanto a água como o coco seco e são mais precoces. Por esse motivo tem sido a variedade mais plantada no Brasil e já responde por 70% da área de cultivo do país.

META AMBICIOSA
Com o êxito da produção da fazenda de Moju, e após investimento na construção de uma unidade industrial em Ananindeua, também no Pará, para onde seguem 400 mil cocos por dia – dos quais se extraem água, coco seco, fibra e óleo –, em 2007 a empresa implantou um novo coqueiral no Estado, desta vez no município de Santa Isabel, com 2.000 hectares de coco-anão para produção de água. Também foram construídas duas novas unidades industriais em Ananindeua para envase de água. Neste ano, a empresa investirá ainda R$ 120 milhões para duplicar a produção de água de coco e ampliar sua participação no segmento, que atualmente é de 53% do mercado. “Queremos aumentar a produção de água de 37 milhões de litros, em 2012, para mais de 70 milhões de litros, em 2016”, estima Paulo Roberto Maya Gomes, diretor comercial do grupo.

Os investimentos na produção de água refletem o bom desempenho das vendas desse segmento dentro e fora do Brasil. “O potencial desse mercado é extraordinário, por ser um produto natural, cujas vendas crescem mais que as de refrigerantes e de energéticos”, avalia Francisco Porto, presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco do Brasil (Sindcoco). O país consumiu em 2010 aproximadamente 60 milhões de litros de água de coco, o que colocou o consumo per capita no país em 0,32 litro por pessoa ao ano (para efeitos de comparação, o de refrigerante se situa em 2,79 litros por pessoa anuais). Em 2012, a estimativa do Sindcoco é que o mercado interno tenha consumido 90 milhões de litros de água de coco, elevando o consumo per capita para 0,47 litro.

A Sococo tem como desafio ampliar sua presença internacional sem desabastecer as gôndolas brasileiras. “Investimos na expansão da área de cultivo com a finalidade de crescer lá fora. Nossa meta é produzir, em 2015/2016, cerca de 72 milhões de litros de água de coco envasada, o que nos dará amplas condições de participar dos dois mercados”, diz Tenório. As vendas externas são, em sua maioria, para o mercado americano, que já compra 50 milhões de litros da bebida por ano.

Com faturamento superior a R$ 600 milhões em 2012, a Sococo mantém 4 mil funcionários nas fazendas e fábricas do Pará e na sede em Maceió. “Queremos partir para o mercado externo mantendo a liderança interna ”, diz Tenório. Em relação ao Brasil, o que não falta é otimismo. “Acreditamos que existe potencial de crescimento para qualquer produto alimentício no país, pois estamos vivendo um período de grandes oportunidades para o aumento do consumo em todas as faixas sociais”, acrescenta. Ele acredita que a migração de pessoas das classes D e E para a classe C – reforçada nos últimos anos – contribuiu para ampliar o consumo de água de coco.

“Acreditamos que o potencial de crescimento desse segmento seja de 12% ao ano nos próximos anos”, completa Lins. A Sococo é atualmente a maior envasadora de água de coco do Brasil. Dentre as principais estratégias adotadas pela empresa destacam-se a verticalização das fazendas e o cuidado do plantio ao envase, ações consideradas por Tenório como primordiais para a valorização do setor e o reforço no posicionamento das marcas, em especial a água.

A produção de água, por sinal, tem incentivado novos plantios em todo o país, o que ajudou o Brasil a subir no ranking geral dos maiores produtores de coco do mundo. Saiu da décima posição, que ocupava em 1990, para o quarto lugar, em 2011, com uma safra estimada em 2,8 milhões de toneladas de coco, atrás apenas da Indonésia (que produz 19,5 milhões de toneladas), das Filipinas (que tem safra anual de 15,3 milhões) e da Índia (que colhe 10,8 milhões de toneladas de coco ao ano). Considerada apenas a produção de água de coco, o Brasil é líder mundial e movimenta R$ 450 milhões com esse negócio.

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Tenório visita a fazenda no interior do Pará uma vez por semana

INGREDIENTE NOBRE
A Sococo tem investido fortemente em marketing para chamar a atenção sobre os outros derivados do coco (um coco seco rende 125 gramas de coco ralado integral, por sua vez utilizado na produção de coco ralado – adoçado ou não –, leite de coco e óleo de coco). Faz isso com campanhas de valorização do coco como ingrediente nobre da culinária brasileira e internacional. “Essa é uma percepção que vem sendo reforçada pela própria gastronomia, que coloca os pratos com coco em destaque nos melhores cardápios”, avalia Tenório.

No caso do segmento de coco ralado, a Sococo respondeu por 52% das vendas nacionais, de 35.000 toneladas, em 2012. “É um setor que cresce a taxas de 5% ao ano, mas que ainda sofre com a entrada de produto de baixa qualidade no Brasil”, diz o empresário. A entrada de coco seco oriundo dos países asiáticos é vista com preocupação pelos agentes da cadeia brasileira da coqueicultura. “O mundo inteiro é muito zeloso em relação à importação de alimentos, faz exigências, mas o Brasil parece ter pouca atenção ao que compra do resto do mundo”, comenta Tenório.

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Com produção e consumo estimados em 35.000 toneladas no mercado interno, o Brasil importou no ano passado 10.000 toneladas de coco seco, principalmente da Indonésia e do Vietnã, que respondem por 50% das vendas para o país. “As importações são desnecessárias e prejudiciais à indústria nacional, que atende às exigências da Anvisa, enquanto as importações são feitas sem fiscalização sanitária. Estamos há anos lutando contra as compras fora do país”, afirma Francisco Porto, do Sindcoco.

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Fonte: http://revistagloborural.globo.com/

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