Água de coco faz carreira de sucesso no exterior

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Novas embalagens dão vida longa à bebida, que vira pop e conquista o mercado internacional

Desde que estrelas internacionais como Madonna, Rihanna e Demi Moore confessaram publicamente seu vício em água de coco brasileira, no verão de 2010, a bebida mais popular das praias do país ganhou o mundo. Saudável, saborosa e refrescante, a água de coco caiu no gosto dos consumidores dos Estados Unidos e da Europa. Por aqui, esse sucesso está multiplicando os lucros no campo e gerando oportunidades em toda a cadeia produtiva. É verdade que o aval das celebridades ajudou, mas o que deu vida nova ao coco – e vem sustentando sua promissora carreira internacional – foi a introdução de tecnologias para conservação e novas embalagens para a água. Isso garantiu a sanidade do produto e aumentou sua durabilidade. Também provocou uma reviravolta no setor, especialmente para quem mantém lavouras destinadas à produção de água. As embalagens em pet (plástico), alumínio ou Tetra Pak, em volumes que vão de 280 mililitros a um litro, criaram novas perspectivas para o produto. Hoje, a água de coco, totalmente natural, já pode ser consumida até 30 dias após seu envasamento, desde que conservada a temperaturas entre 1°C e 4°C. Em alguns casos, com a adição de conservantes, a validade chega a um ano.

Com isso, empresas brasileiras que tradicionalmente trabalhavam com leite ou coco ralado passaram a apostar no comércio da água, inclusive para exportação, o que colocou o Brasil na posição de maior produtor mundial da bebida. No país, a área de cultivo de coqueirais já soma 290 mil hectares, distribuídos entre as variedades gigante, anão e híbrido (cruzamento entre gigante e anão), e a produção caminha para 3 milhões de toneladas, ou cerca de 1,2 bilhão de cocos.

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No Ceará, terceiro maior produtor do país, são cultivados mais de 47 mil hectares de coqueirais – boa parte irrigada e destinada à produção da água tanto para atender à demanda nacional, que se situa em cerca de 350 milhões de litros por ano, como para fazer frente à crescente demanda do mercado internacional, que cresce a uma taxa de 20% ao ano. As exportações para os EUA devem fechar o ano em cerca de 24 milhões de litros, com previsão de alcançar 40 milhões de litros em 2012. “O mercado americano é tão promissor que estamos à procura de mais terras para comprar”, diz Fernando Vaz, gerente de produção da Paragro, de Paraipaba (CE), que cultiva 500 hectares. A empresa também exporta água de coco para a Alemanha, além da polpa de coco verde, usada em misturas para fabricação de sucos, drinques e sorvetes.

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Um dos fornecedores da Paragro é o ex-aviador português Armando Luís Barata, que cultiva 70 hectares. Ele optou pelo coco por três razões: o coqueiro não requer muitos cuidados, produz todos os meses do ano e tem mercado assegurado. “O futuro do coco está garantido, porque ele é um alimento completo e saudável”, diz. Barata tem uma das maiores áreas cultivadas do país com coco orgânico certificado pelo Instituto Biodinâmico (IBD). O produto orgânico tem valor 30% maior que o do produto convencional e demanda em alta. “Recebi propostas para exportar para Alemanha, Itália e Portugal, mas meu foco é o cultivo, que tem sido uma maneira interessante de envelhecer”, brinca. Os planos do produtor são elevar em 40% a produção atual, de 1 milhão de cocos ao ano, até 2013.

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O empresário Laerte Gurgel, da Cohibra, que trabalha com melhoramento genético e produção de mudas em Amontada (CE), garante que o país vai ter de acelerar o investimento na lavoura para acompanhar o crescimento previsto de 18% ao ano para o mercado de água de coco. “Nesse ritmo, os atuais 60 mil hectares plantados no Brasil com coco-anão (indicado para produção de água), que colocam o país na posição de maior produtor mundial, terão de se multiplicar nos próximos cinco anos e chegar a 300 mil hectares até 2020”, prevê Gurgel.

Com a experiência de quem se dedica há décadas à produção e ao melhoramento de coco, Gurgel tem uma convicção – o coco é a bola da vez para o Brasil. “Daqui a 20 anos, o coco será uma commodity (produto com preço cotado no mercado mundial) igual à soja ou milho”, avalia. E o Brasil, segundo ele, terá papel de destaque nesse mercado, pois tem potencial para se tornar o principal produtor mundial de coco, superando países como Indonésia, Índia, Filipinas e Sri Lanka, considerados os maiores produtores mundiais. Isso porque os coqueirais desses países estão estagnados, devido à baixa produtividade e ao fato de estarem envelhecidos.

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No Ceará, são cultivados 47 mil hectares de coqueirais

Em função desse cenário de estagnação na produção mundial, Gurgel acredita que o preço do coco tende a se valorizar nos próximos anos. Hoje, o mercado brasileiro já remunera bem e paga R$ 1 por unidade retirada na propriedade, valor quase seis vezes maior que o registrado em 2007, quando o mercado pagava R$ 0,15 pela fruta. No caso do óleo de coco – muito utilizado na química fina e nas indústrias farmacêutica, de cosméticos e de alimentos –, ele avalia que o aumento pode chegar a 500% nos próximos cinco anos. “A indústria que consome o óleo está concentrada principalmente nos EUA e não pode prescindir das qualidades desse produto, rico em ácidos láuricos, que tem efeitos benéficos à saúde”, explica. Ele avalia, no entanto, que no curto prazo o grande crescimento será representado pela água de coco, que já disputa uma fatia de mercado com sucos, refrigerantes e bebidas isotônicas. “Em 2010, de um mercado de 10 bilhões de litros de refrigerantes e isotônicos consumidos no Brasil, a água de coco teve participação de 3,5%. Cinco anos atrás, o produto representava apenas 1,4%”, observa Gurgel. Não é de hoje que Gurgel acredita no futuro do coco. Há 25 anos, ele se associou à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Sergipe e a especialistas franceses para criar variedades de coqueiros que pudessem dar o suporte adequado ao setor – plantas que ao mesmo tempo tivessem boa produção de água e de óleo, além de combinar a precocidade do coqueiro-anão com a rusticidade da planta gigante (coqueiro-de-praia). Desde então, utilizando material genético proveniente da Ásia e da África, foram sendo obtidos coqueiros híbridos cada vez mais produtivos e resistentes.

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Agora, Gurgel avalia que chegou ao ponto desejado: 12 cultivares de coco híbrido em breve estarão à venda no mercado. As sementes produzidas por Gurgel já têm mercado certo e são bem pagas: um quilo de pólen de coqueiro da Cohibra – quantidade que apenas três plantas podem produzir em um ano – chega a custar R$ 5 mil. “É a recompensa por muitos investimentos realizados em conhecimento e tecnologia”, comemora Gurgel.

“Até bem pouco tempo atrás, o coco vinha sendo cultivado praticamente da mesma forma como quando chegou ao Brasil, na época da colonização. Mas isso está mudando radicalmente com o interesse das empresas multinacionais no negócio”, pondera Gurgel. “E a água hoje é que lidera a expansão do setor”, afirma o gaúcho Adelino Martins, controlador da Terra Brasil, instalada em Trairi (CE), que comercializa a marca Vitcoco em todo o país. A água de coco já recebe o mesmo processamento industrial, utiliza as mesmas embalagens e tem tratamento de marketing semelhante ao reservado aos sucos, refrigerantes e isotônicos, disputando espaço com as demais bebidas nas gôndolas dos supermercados e lojas de conveniência. E isso não acontece só no Brasil, mas em países como os EUA, onde é comercializada em cerca de 20 mil pontos de venda. Lá, o mercado de bebidas não alcoólicas movimenta US$ 90 bilhões por ano. O aumento das exportações brasileiras ajuda a trazer novos investimentos para o setor.

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Madonna gostou tanto da água de coco que virou investidora da Vita Coco

Na Ducoco Alimentos, a água de coco já superou produtos tradicionais como o leite e o coco ralado. “Esse mercado deu um salto gigantesco de uns três anos para cá, principalmente com a abertura do mercado americano”, comenta Mário Vital Domingues, diretor de operações. Ele diz que, desde 2009, a demanda por água de coco nos EUA dobra a cada ano. Segundo Domingues, a inclusão dos americanos entre os apreciadores do produto permitiu elevar as exportações da empresa de 5% do volume da produção total, em 2009, para 30%.

“Antes, o coco era consumido nos EUA apenas por latinos ou imigrantes asiáticos, mas isso mudou completamente”, observa. Para atender à nova demanda, a empresa investiu R$ 10 milhões na ampliação da planta industrial de Itapipoca, que hoje envasa 100 toneladas de água de coco por dia. Do total exportado, 80% têm como destino os EUA. Algumas empresas já nasceram inteiramente dedicadas à produção de água de coco. Caso da Paragro, que processa mensalmente 1,7 milhão de litros de água – dos quais 1,5 milhão seguem para os EUA com a marca Vita Coco, que tem entre seus investidores as estrelas Madonna e Demi Moore.

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O português Armando Luis Barata mantém no Ceará uma das maiores áreas de coco orgânico do Brasil

A PepsiCo, gigante do setor de alimentos, está investindo R$ 150 milhões numa nova unidade industrial para ampliar a produção de água de coco. Em 2009, a multinacional comprou a Amacoco, empresa que era associada à Sococo.

“Conseguimos um produto tão confiável que hoje é consumido e vendido até em hospitais”, garante Demóstenes Frota, sócio da Natu Coco. Para Francisco de Paula Domingues Porto, presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco do Brasil (Sindicoco), o futuro da água de coco é mais promissor que o do coco seco ou ralado.

Vencedora do prêmio Melhores do Agronegócio 2011 na categoria alimentos básicos, concedido pela revista Globo Rural, a Sococo prefere manter seu foco no consumidor brasileiro, segundo Emerson Tenório, diretor presidente da companhia. O carro-chefe da empresa é a água. Hoje, a Sococo detém 53% do mercado brasileiro, com vendas de 36 milhões de litros por ano.

O óleo que emagrece

A produção mundial de óleo de coco oscila em 3,3 milhões de toneladas. Usado na indústria para a produção de velas, sabonetes finos, margarinas e biodiesel, o óleo de coco é um produto caro e tem demanda aquecida, em virtude de suas propriedades funcionais. Rico em proteína, gordura, sais, hidratos de carbono e vitaminas, ele regula a função intestinal, reduz o mau colesterol, melhora o sistema imune e a absorção de nutrientes, eleva a energia, é antioxidante e ajuda a emagrecer. Recentes estudos científicos indicam que seu consumo regular ajuda a evitar o mal de Alzheimer. “Ele também é muito usado como óleo de freio de avião, pois não congela e suporta qualquer temperatura”, diz Francisco de Paula Domingues Porto, presidente do Sindcoco. O Brasil ainda não produz óleo de coco e importa o que consome da Ásia e da África. Na avaliação de Porto, os custos de produção são altos e a concorrência com países asiáticos e africanos inviabiliza a produção no Brasil. “Nesses países, a mão de obra é quase gratuita, pois há exploração da miséria”, diz. O óleo de coco é produzido das variedades de coco-gigante e híbrido. O rendimento de uma plantação bem assistida alcança 2,5 mil quilos por hectare ao ano e o valor da tonelada chega a US$ 300 no mercado internacional, o que pode atrair novos investimentos brasileiros para esse segmento.

Uma experiência natural

 

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Boa parte do dinamismo da cadeia do coco se deve ao mineiro Rodrigo Veloso (foto), que teve atuação decisiva na abertura do maior mercado do mundo, o americano, para o produto brasileiro. A saga de Veloso alia senso de oportunidade a obstinação e teve início no ano de 2005, quando ele desenvolveu um plano de negócio de reaproveitamento de rejeitos da indústria de alimentos na fabricação de bebidas, como a água de coco. A tese do empresário foi muito bem recebida no meio acadêmico, o que o animou a tirá-la do papel. Com um capital inicial de US$ 150 mil, ainda em 2005, ele desembarcou em Los Angeles, na Califórnia, disposto a desbravar o mercado dos Estados Unidos para a água de coco.

Em 2010, a empresa que ele fundou, a O.N.E. (Uma Experiência Natural, em inglês), já estava faturando cerca de US$ 40 milhões e vendendo seus produtos na segunda maior rede varejista dos EUA. Naquele mesmo ano, a PepsiCo, gigante mundial do setor de alimentos, adquiriu a maior parte das ações da O.N.E., confirmando definitivamente o acerto da tese de Rodrigo Veloso: a água de coco poderia ser realmente um grande negócio.

Fonte: http://www.fenacoco.com.br

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